CONTEXTO DE CRIAÇÃO
Pelo menos desde o final da década de 1990, tem-se desenvolvido entre nós investigação sobre as relações entre Filosofia e Género, de amplitudes diferentes e também de perspetivas diferentes, tendo dado lugar a um número já considerável de publicações no país e no estrangeiro. Todavia, tal dinâmica não conseguiu ainda a visibilidade institucional correspondente.
Nesse sentido, e à semelhança da existência de diversos tipos de entidades ligadas a esta temática a nível internacional, pensamos que a criação de um Centro de Filosofia e Género pode contribuir para dar mais relevância ao tema, fortalecendo-o institucionalmente.
Na verdade, em diferentes latitudes, existem estruturas institucionais dedicadas ao aprofundamento e ao apoio do tema. Umas mais próximas de nós, como em Espanha, onde a relação entre Filosofia e feminismo tem já uma longa tradição ligada, nomeadamente, ao Seminário que Celia Amorós dirigiu na Universidade Complutense de Madrid, desde a década de 1980. Outras mais longínquas, como é o caso do Centro para a História das Mulheres Filósofas sediado na Universidade de Paderborn, com a direção honorária de Mary Waite.
Pensamos, por outro lado, que pode ser importante o empoderamento e a institucionalização desta temática, antes de mais, pela própria natureza crítica da Filosofia e pela sua dimensão de pensar a vida e a existência. Se o questionamento central da Filosofia continua a ser a investigação em torno da questão do que é o ser humano, essa investigação hoje não pode ignorar o amplo leque de informação e de debates - de dentro da Filosofia, mas também das suas margens - existente sobre o tema, direta ou indiretamente.
Contudo, há uma outra ordem de razões que se podem colocar sob a categoria de justiça cognitiva.
Na verdade, a ideia subterrânea que estruturou a nossa sociedade da derivação do feminino a partir de uma perspetiva masculina modelar continua a ser marcante ainda hoje, independentemente dos novos papéis sociais que as mulheres desempenham, sendo as conceções antropológicas veiculadas pela Filosofia as grandes responsáveis dessa situação. Assim, parece evidente que é necessário e cognitivamente justo que o olhar sobre a História da Filosofia questione e desconstrua essa visão antropológica assimétrica e, fundamentalmente, ponha de manifesto o enviesamento estrutural em que assenta. Por exemplo, a coleção Re-reading the Canon, dirigida por Nancy Tuana, tem vindo a desenvolver esse trabalho desde a última década do século passado e, envolvendo especialistas dos diferentes autores e autoras da Tradição, tem contribuído para fazer aparecer novas interpretações e novas problemáticas, destruindo a ideia de que a assimetria antropológica corresponda à natureza das coisas.
Mas essa injustiça cognitiva também funciona ao nível da ocultação e silenciamento das mulheres que escreveram e pensaram ao longo dos séculos e de que, até há meia dúzia de anos, não havia qualquer conhecimento. De facto, a grande rutura neste estado de coisas é realizada, simbolicamente, pela obra Dinner Party, de Judy Chicago, da década de 1970, e pelos volumes da History of Women Philosophers, de Mary Waithe, de 1980. No entanto, as Histórias da Filosofia continuam a ignorar olimpicamente a contribuição das mulheres, não trazendo para o debate as suas contribuições, nomeadamente, no plano da ética e da filosofia política, espaços teóricos onde há contributos essenciais e inovadores da parte de filósofas contemporâneas.
OBJETIVOS
Nesse sentido, pretende-se:
MEMBROS
Directora: Fernanda Henriques
Universidade de Évora,
maria.mariafern@gmail.com
Sub-Directora: Maria Luísa Ribeiro Ferreira
Universidade de Lisboa, luisarife@sapo.pt
Outros membros:
Joana Serrado, Universidade do Porto, Joana.serrado@fulbrightmail.org
Maria do Céu Pires, PRAXIS/núcleo de Évora, ceupires@gmail.com
Marília Rosado Carrilho, PRAXIS/núcleo de Évora, marrylia@gmail.com
Teresa Toldy, Universidade Fernando Pessoa, toldy@ufp.edu.pt
APRESENTAÇÃO PÚBLICA DO CENTRO
No dia 20 de janeiro de 2020, no âmbito do Colóquio realizado na Universidade do Minho, subordinado ao tema The Canon Revisited: Women Philosophers, foi anunciada a criação do Centro Filosofia e Género, da Sociedade Portuguesa de Filosofia.
O anúncio foi feito pelo Presidente da Sociedade Portuguesa de Filosofia, Prof. Dr. José Meirinhos, que se referiu ao interesse e oportunidade que pode ter a atividade que vier a ser desenvolvida pelo referido Centro.